-Aliste-se.Isso lhe dará algo sobre o que escrever.
-Becker,há sempre algo sobre o que escrever.

Charles Bukowski- Misto Quente.

28 de mai. de 2011

Divagações de um alterego frustrado.

Sentado na janela, levantei pra pegar um whisky.
(Não bebo.)
Acabaram as doses -nem mesmo me lembro quantas foram- e, então, fui pro quarto e acendi um cigarro.
(Não fumo.)
Então pensei, bem, não é tão difícil fingir. Não é tão ruim encher a cara e ficar grogue por tanta fumaça inalada, e fingir que nada mais importa, me tornar um junkie louco sem noção alguma da realidade.
Sem a mais remota lembrança de ti.
Não é difícil.

Comecei, então, a fingir. Duas garrafas de whisky por dia, ora acumuladas embaixo da cama, ora estilhaçadas pelo impacto com a parede. E eu dizia, qual é, pra quê ver o mundo com clareza? Mas seu sorriso ainda assim vagueava pela minha mente, como um fantasma noturno. Soturno.
E eu bebia mais e mais e escrevia contos à la Bukowski, sobre mulheres que eu nunca conheceria, pois só pensava em ti, além de tudo;
sobre garrafas e vinhos baratos e ressacas e filmes de amor
e sobre os cigarros que eu não suportava mais, eu não suportava mais!; e ainda assim fumava, ainda assim escrevia,
e sentia nos lábios solitários o gosto amargo da perda,
sentia nos ouvidos a sonora voz que repetia que "é tudo em vão, é tudo em vão..."


E era mesmo. Eu sabia. Eu sabia, porra! Não há garrafa de whisky que me apague, que me apegue, de vez a ponto de conseguir me fazer mentir pra mim mesmo!

E escrevia compulsivamente, a vodka respingando no papel se confundia com as lágrimas...





Que lágrimas?
Homem não chora, homem não chora...
Não com os olhos do corpo. Mas navega em lágrimas de saudade, com os olhos da alma...

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