"In the end, we're drowning in feelings."

Continuo direcionando as mesmas intermináveis cartas ao mesmo endereço de outrora,
mesmo tendo visto o caminhão de mudanças estacionado
desnudando as paredes
enchendo caixas, esvaziando quartos
descobrindo pertences dos quais só lembramos assim
na hora de ir
( Se esqueceu até mesmo de devolver meus livros e cds, mas eu não me importo, não conseguiria relê-los/ouvi-los de novo depois de ter dividido as páginas/faixas uma a uma contigo, eu não me importo. Leva.)
O espelho refletidos no qual tiramos aquela foto memorável ficou. Quem sabe fique na memória de mais alguém.
Poucas coisas ficaram. Assisti tudo.
Eu vi que você me viu, pelo retrovisor do carro, sem nem mesmo um aceno frio de ''adeus''.
E fiquei parada estática inerte no meio da rua assistindo o carro virar a esquina, ou seguir reto até sumir, qual foi mesmo o caminho que fez?... Já nem lembro mais.
Fiquei parada assistindo pensando se deveria ficar triste ou me sentir livre, livre de vez dessas amarras fortes como braçadeiras que por tantas vezes quis desatar e no fim desataste primeiro.
Feliz ou triste, feliz ou triste?....
Acordei um dia desses e constatei: não me lembro mais da cor dos seus olhos.
Fui procurar nossas fotos pra tirar essa dúvida de mim: não existem mais. Rasguei. Queimei. Foi pro lixo.
Não penso mais sobre seus olhos, não me importam mais. Não faz a mínima diferença recordar ou não do som da sua gargalhada, se é um dos ruídos que eu menos espero ouvir - pelo menos por um tempo.-
Mas continuo me importando.
Como eu havia começado a dizer,
continuo direcionando as mesmas intermináveis cartas ao mesmo endereço de outrora,
mesmo sabendo que não vai estar lá.






Mesmo esperando que não esteja lá.