-Aliste-se.Isso lhe dará algo sobre o que escrever.
-Becker,há sempre algo sobre o que escrever.

Charles Bukowski- Misto Quente.

14 de out. de 2010

051010

Uma noite inteira sem dormir.
Na noite seguinte, foi se deitar com uma xícara de chá e um bom livro.
Não parece suficiente...mas ela planejara esses momentos de descanso desde que saíra de casa, pela manhã.
Se sentiu a ponto de explodir - e, ao mesmo tempo,vazia.
Olhou no relógio: 22h39. Uma noite de outubro.
Devia ser isso.
Não gostava de outubro... Especialmente desse outubro. Trazia o fim do ano pra perto.Trazia suas 17 primaveras.
Trazia a certeza de que ela ainda não tinha sido nada do que queria ser.
Aprendeu que nada deixava de acontecer, mas aprendeu também que era ansiosa demais para deixar que as coisas agissem por si.
Não conseguia esperar que o copo se enchesse -ia pegá-lo antes disso.
E o derrubava.



Estilhaços.
Passava longos minutos pensando quem poderia ter se ferido com o vidro.
(Muitas vezes se deparou com as próprias mãos cortadas.Nada demais.Essas feridas cicatrizam.)
Por isso não conseguia dormir. - Mas não se importava.
Também pensava: Sabia que precisava se apaixonar.
(Por aquela imagem que via tantas vezes refletida no espelho,que na maioria das vezes lhe causava repulsa, mas causava também admiração.)
Pra se desapaixonar de todo o resto - o resto que apertava o peito e chegava a doer.

Mas como?

Ela escreve para se afastar dos sentimentos, seja quais forem eles.
Escrevia e guardava na gaveta - ou jogava no lixo.
Escreveu tantas páginas, não recebeu uma sequer. (Ainda não.)

Perdeu tanto tempo pensando...
Acordava de manhã tão alegre e bem-disposta, e enquanto abria as cortinas do quarto pra deixar o sol entrar, pensava: "Não sinto mais!...Não tenho mais um coração!..." pra mais tarde ver que se enganara.
Busca em qualquer canto lapsos de esquecimento por menores que possam ser, e consegue manter a maioria dos sorrisos (sinceros!) de outrora. Isso é bom.E não há quem possa negar.
Só se deixa abater em uma pequena parte de si, tão pequena que poucos conseguem perceber.

Ela é a mesma de ontem.
A mesma de dois ou três anos atrás.
Vai ser a mesma amanhã, quando acordar.


E é isso que a incomoda.

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