-Aliste-se.Isso lhe dará algo sobre o que escrever.
-Becker,há sempre algo sobre o que escrever.

Charles Bukowski- Misto Quente.

17 de set. de 2010

Relicário (parte 4)




Por sorte, ela tinha roupas limpas na mochila.
E perfume.
--

Saiu do banho, tão cheirosa que Bert virou as costas e encarou ela.
- Você está linda, Mary. Quer dizer, mais linda do que quando chegou.
"Ótimo.Agora eu devo estar vermelha como um tomate!..."

- Obrigada, Bert.Vê, eu estava mesmo precisando de um banho.
- Vem cá, senta aqui.- ele puxou um banquinho do seu lado.Ela estremeceu.
Ele completou:
- Quero colocar um desenho seu no meu livro.
- Sério? - Ela riu.Tinha gostado da ideia.
- O que você quer que eu desenhe?
- O que você quiser, querida.Depois eu escrevo algo que combine com o desenho.
- Então pára quieto!- ela riu e ajeitou o cabelo de Bert.
Ele olhou profundamente nos olhos de Mary.

Sempre elogiaram seus desenhos, mas agora todo o seu talento não parecia suficiente. Ela queria, ela precisava impressioná-lo.
Desenhou. Apagava, consertava, sombreava...Até que parou, observou, afastou o desenho do rosto e comparou-o com o Bert.
Então concluiu:
- Obviamente não consegui expressar toda sua beleza,e seu sorriso não ficou tão encantador.
- Duvido que não!...Deixa eu ver! - Ele puxou a prancheta das mãos dela, com o sorriso que ela tinha citado.
- Acho que não posso mais ilustrar meus livros, agora que achei quem o faça melhor que eu.- sorriu de novo.- Obrigada, Mary. Eu realmente gostei muito.
- De nada.-

Ela não resistiu.

Beijou-o.

Sentia como se suas almas se conhecessem desde sempre, mas só agora seus corpos tivessem se encontrado.
Bert parecia sentir o mesmo, pois retribuía o beijo. Tão gentil quanto ela imaginara.
Mas de repente ele se desvencilhou dos braços de Mary...

-Mary... Me desculpe, mas eu realmente preciso terminar isso aqui.É realmente meu trabalho, sabe?...
- Me desculpe, Bert.Eu só... Me desculpe.
Ela se sentia constrangida, mas se esforçava para não demonstrar isso.Pegou a mochila e sentou no sofá.Procurou o mp4, mesmo sabendo que não tinha bateria.
Hesitou, mas acabou perguntando:
- Tem uma tomada por aqui?...
- Tem uma atrás dessa poltrona em que você está sentada.- Ele disse,sem nem mesmo tirar os olhos do desenho que terminava.
- Ah, esquece. Eu não trouxe o carregador.

"Droga.Eu estraguei tudo,eu estraguei tudo, eu estraguei tudo..."

Mary se sentia mal por não poder ir embora, sentia Bert tão distante e tão frio desde aquele beijo.
Mas tinha que continuar ali até o dia seguinte.

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