-Aliste-se.Isso lhe dará algo sobre o que escrever.
-Becker,há sempre algo sobre o que escrever.

Charles Bukowski- Misto Quente.

17 de set. de 2010

Relicário [final]




Precisava buscar refúgio em algo que não fosse a indiferença dele.
Olhou em volta e decidiu que precisava ler algo.
Levantou e foi até a prateleira quase vazia, aquela onde estavam os quatro volumes de Bert.Pegou um deles, de contos, sentou no sofá e começou a ler.

Obviamente, os leitores de Bert nunca haviam estado ali.
Era exatamente o ambiente que ele descrevia nas histórias, com um toque de magia.

Mágico como os olhos e o sorriso contagiante dele...


Mas ela começou a admirá-lo menos, assim que percebeu que todos aqueles objetivos, aquelas metas, aquelas mágoas eram sinceras.
Ele tinha tudo pra realizar seus sonhos, mas invés de lutar por eles, preferia se esconder no alto de uma colina, debruçado naquela escrivaninha, e alcançar tudo que achava necessário pra sua felicidade escrevendo contos.

Não se conteve.

-É só isso que você faz por aqui, querido? Quer dzer, não tem intenção de nada além de escrever contos sobre sonhos que você pode mas não quer realizar?...


Bert não respondeu.
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E é assim que você pode perder o amor da sua vida.
Tirando conclusões precipitadas.
Esquecendo que você nunca conhece uma pessoa o suficiente pra questioná-la sobre seus sonhos, empregando simples palavras - apenas para quebrar o silêncio - com segurança.
Mary conviveu com o arrependimento dessas palavras por algum tempo, mas se passaram promaveras suficientes pra que ela se esquecesse.
Mas ela nunca mais conseguiu preencher a sensação de vazio que se manteve,
nunca mais sentiu como se sua alma conhecesse outra alma a longa data...
Percebeu que naquele dia em que ficou perdida, seu coração se encontrou.
Conheceu o amor da sua vida, mas deu um passo em falso na direção d'Um Abismo Maior.

Um abismo comum, como qualquer outro:
Que não tem volta.

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