
Ela olhava pras duas mãos.Uma de cada um,entrelaçadas.
Como ela tinha perdido noites imaginando,e agora era só...REAL.
Só esse era o foco que seus olhos sonhadores mantinham.Foco desfocado,quase dando margem ás lágrimas que deixavam seu olhar ainda mais vivo.
O único momento em que ela desviou o olhar foi pra ver um sorriso nos lábios da razão de estar ali.
Ela olhou,procurou...mas não encontrou esse sorriso.
Só encontrou um par de olhos estáticos,olhando pro nada,procurando um horizonte que ela não conseguia ver.
Ficou em dúvida se devia ou não demonstrar que esperava mais desse momento.Simplesmente aproveitou-se da única parte dele sob a qual ela ainda exercia algum controle,mesmo que mínimo.
Apertou sua mão.
E a reação dele foi simplesmente encará-la como se tivesse esquecido que ela estava ali...que ambos estavam ali.
Juntos.De uma forma ou de outra.
Resolveu esperar algum tempo até que ele quisesse dizer algo.Era uma boa hora pra falar,seja o que fosse.
Se endireitou no banco,como se estivesse o encorajando a desabafar.Ele começou a olhar as duas mãos unidas e começou a dizer as palavras,como se elas estivessem escritas no dorso da sua mão.
- Você me faz tão bem.
- Não parece.Aliás,eu não acho que você tenha se lembrado da minha presença até que eu apertei sua mão.
- Você me faz tão bem...mas eu sinto que não é suficiente.
- E porque é que não é suficiente?...Eu sempre estou aqui,eu sempre estou com você.
- Não é o suficiente porque por mais que eu goste de estar aqui,não é aqui que eu queria estar.
- Eu estou exatamente onde eu queria estar.
- Isso me deixa triste.Você se entrega de corpo e alma, e tudo que eu consigo fazer é entregar uma parte do meu eu.
- E onde é que ficou a outra parte do teu eu?
- Com outra pessoa.
- E porque é que você não pega essa parte de volta?...
- Porque ela não se sente da mesma forma que eu em relação a isso.
- Você não deveria desistir de tentar.
- Já tentei o suficiente pra saber que não adianta insistir.
- Nem sempre é assim.Se eu fosse ela,eu gostaria que você não se cansasse de tentar.
Ele riu. Finalmente ela conseguiu aquele sorriso.Sem luxúria,sem descaso.Um sorriso contente,de quem agradece.
- O que foi?- Ela perguntou, e retribuiu o sorriso.
- Seus conselhos.São tudo que eu sempre quis ouvir, e as pessoas só me mandavam desistir.Qualquer outra garota já teria levantado desse banco e me virado as costas,mas você continua aqui.
Me sinto infeliz por não ser o cara que vai te amar do jeito que você merece.
- Não é só você quem deveria se sentir mal.O motivo dos seus olhos cabisbaixos e tristes também anda faltando nas aulas de como amar alguém especial.
- Te devo desculpas e um obrigado maior do que eu conseguiria dizer.
- Prefiro que me faça uma promessa.
- Qual?
- Promete que vai fazer o possível pra conquistá-la de novo.
- Isso não é a promessa mais fácil de se cumprir.
Ele sorriu de novo.E acariciou sua mão.Só agora ela percebeu que elas estavam juntas ainda, delicadamente tentou afastá-la.
Mas ele a pegou de novo.
- Prometa.
- Eu prometo.
Passou-se o tempo...
Caíram as flores da primavera e o ciclo das estações se completou mais uma vez.
E ambos percebem que tudo continua igual.
As promessas que não são quebradas se tornam impossíveis de cumprir, e nem sempre há algo a se fazer.
Você sabe que é verdade.
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