-Aliste-se.Isso lhe dará algo sobre o que escrever.
-Becker,há sempre algo sobre o que escrever.

Charles Bukowski- Misto Quente.

16 de mai. de 2010

...

"Não sei mais o que dizer. É como você ir até a clareira para ver a sua árvore. Ficar perto dele me dá a sensação de acon­chego, de que tudo está em seu lugar, como se eu não estivesse mais perdido:' Mantive os olhos afastados dela. "Se você é a mesma coisa que o livro para mim? Sim. É claro que é. Você é a única coisa que significa o mesmo que o livro para mim”.
Eu me enganei. Pensei que poderia ter vocês dois. Eu estava errado.
"Por que estou aqui, Tom?"
"Para me lembrar."
“Por quê?”
"Para eu me descul..."
“Tom”. Ela me interrompeu com um olhar. “Por que estou aqui?"
Porque você sente da mesma maneira que eu sinto.
Sim.
Porque isso era importante demais para deixar só para mim.
Sim.
"O que você quer?", perguntei.
"Quero que você pare de trabalhar no livro”.
"Isso é tudo?"
"Isso é tudo? Isso é tudo?"
Agora, subitamente, a emoção eclode.
"Você quer que eu sinta pena de você porque você desistiu de nós para agir como um estúpido e viver só em função do livro? Seu imbecil, eu passei quatro dias com as venezianas fechadas e a porta trancada. Karen chamou meus pais. Minha mãe veio de New Hampshire."
"Sinto mui..."
"Cale a boca. Não é a sua vez de falar. Fui até a clareira para ver minha árvore e não pude. Não pude, porque agora ela é a nossa árvore. Não posso escutar música, porque cada canção é algo que cantamos no carro, ou no meu quarto, ou aqui. Levo uma hora para ficar pronta para a aula, porque me sinto entor­pecida na maior parte do tempo. Não consigo achar minhas meias, nem meu sutiã preto predileto. Donald está sempre perguntando: 'Querida, o que está errado? Querida, o que está errado?'. Nada está errado, Donald." Ela puxa os punhos de suas mangas e enxuga os olhos.
"Isso não é jus...”, comecei.
Mas ainda não era minha vez.
"Ainda com Peter eu podia entender. As coisas não eram perfeitas entre nós. Ele gostava mais do hóquei do que de mim. Ele me queria na cama e depois perdia o interesse." Ela passou a mão pelos cabelos, tentando afastar as mechas que ficaram molhadas com as lágrimas.
"Mas você. Eu lutei por você. Esperei um mês para deixar você me beijar pela primeira vez. Chorei na noite em que dormimos juntos, porque pensei que iria perdê­-lo."
Ela parou, amargurada pelo pensamento.
"E agora estou per­dendo você por causa de um livro. Um livro! Pelo menos diga que não é o que estou pensando, Tom. Diga que você está vendo alguma outra durante todo esse tempo. Diga que é porque ela não faz as coisas estúpidas que eu faço, não dança nua na sua frente como uma idiota só porque pensa que você gosta de ouvi-­la cantar, ou o acorda às seis horas da manhã para correrem jun­tos porque quer ter a certeza, cada manhã, que você ainda está com ela. Diga algo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário